sábado, 19 de setembro de 2009

As mulheres do Iraque

Aqui nós temos uma reportagem do jornal New York Times, dizendo que as mulheres Iraquianas estão lutando por seus direitos poucos distribuidos. A candidata para o conselho fala dos problemas que as mulheres passam no Iraque, e diz que vai lutar para que os direitos sejam respeitados e que o maxismo e os abusos parem. Veja a reportagem a seguir:

Amal Kibash, candidata ao conselho provincial de Bagdá, está fazendo uma campanha ousada e até mesmo febril segundo a maioria dos padrões. Com a proximidade das eleições do próximo sábado, ela procura obter todos os votos possíveis. "Você votará em mim, certo?", dizia ela aos transeuntes, durante uma recente caminhada pelo bairro de Cidade Sadr, que até maio do ano passado era um reduto de combate das milícias xiitas. Cartazes enormes com a sua face emoldurada por um véu foram colados em vários prédios, alguns dos quais ainda trazem as marcas da luta recente. Em Basra, onde até um ano atrás faixas advertiam as mulheres que estas seriam mortas a tiros caso usassem muita maquiagem ou aventurassem-se a sair de casa sem usar véu, uma outra candidata, Ibtihal Abdul-Rahman, espalhou pôsteres de si própria no mês passado. Encorajadas pelos progressos na área de segurança presenciados em todo o país, milhares de mulheres estão disputando vagas parlamentares nas eleições provinciais. Dentre os cerca de 14 mil candidatos, quase 4.000 são mulheres. Algumas candidatas tiveram os seus cartazes salpicados de lama, vandalizados com o desenho de barbas ou rasgados, mas a maioria foi poupada da violência que desde o início do ano custou a vida de dois candidatos do sexo masculino e de um líder de coalizão. Mas, na quarta-feira (28/01), uma mulher que trabalhava para o Partido Islâmico Iraquiano foi assassinada por um pistoleiro que invadiu a casa dela em Bagdá e a atingiu com dez tiros no peito, segundo o relato de uma autoridade do Ministério do Interior. Para muitas candidatas, as eleições representam a chance de um arejamento bastante necessário dos conselhos parlamentares, que estão repletos de corrupção e que são dominados por homens e por grandes partidos políticos que são frequentemente ultraconservadores. Mas, mesmo se vencerem, elas continuarão enfrentando diversos obstáculos, especialmente o preconceito arraigado da maioria dos homens iraquianos, que veem as mulheres ou como objetos sexuais ou como produtoras de filhos para as quais não existe lugar na dura e áspera arena política. "Esta é a mentalidade", diz Safia Taleb al-Suhail, integrante do parlamento e filha de um proeminente líder tribal xiita assassinado por agentes de Saddam Hussein em 1994. "Temos que mudar isso. E como mudar? Lutando". Ela está liderando um grupo de parlamentares do sexo feminino que faz pressões para garantir que a mesma regra constitucional que determina que 25% de todas as cadeiras do parlamento nacional sejam destinadas às mulheres também seja aplicada aos parlamentos provinciais. Atualmente, isto não ocorre. Embora na década de 1950 o Iraque tenha sido o primeiro país árabe a nomear uma mulher para chefiar um ministério e a adotar uma lei familiar progressista, as aspirações femininas de liderança foram em sua maioria esmagadas sob o governo machista de Saddam Hussein. A situação complicou-se ainda mais depois de 2003, com a ascensão dos partidos religiosos. Suhail e outras mulheres foram um fator crucial para pressionar o administrador norte-americano do Iraque na época, L. Paul Bremer, para que este incluísse uma quota para as mulheres na primeira constituição de transição do país. A medida foi preservada na atual constituição porque muitos sentem que esta é a única forma de garantir a participação feminina em uma cultura dominada pelos homens. Quando foi publicada em outubro do ano passado, a lei que regulamenta as eleições provinciais omitiu a quota para as mulheres. Não se sabe se a a omissão foi deliberada ou se tratou-se apenas de um erro. A comissão eleitoral determinou que a lei, conforme estava escrita, é aceitável, afirmando que as mulheres contam com garantia de representação adequada devido à exigência de que, após a escolha de cada três homens em qualquer eleição, o próximo nome escolhido seja o de uma mulher. Mas Suhail diz que muitas listas de candidatos não trazem uma quantidade suficiente de mulheres para atender à exigência, enquanto outras consistem de menos de quatro candidatos, todos eles homens. Mahdiya Abed-Hassan al-Lami, uma defensora dos direitos das mulheres e candidata em Bagdá na chapa do ex-primeiro-ministro Ibrahim Jaafari, diz que, embora apoie o sistema de quotas, este foi manipulado pelos principais partidos políticos, tanto os seculares quanto os religiosos, a fim de marginalizar as mulheres. A maioria das mulheres escolhidas para as grandes chapas eleitorais só está participando devido às suas conexões familiares e tribais, e à lealdade a determinada facção ou partido, e não pelas suas qualificações. "Se as mulheres forem simplesmente seguidoras, elas não serão capazes de cumprir propriamente os seus papeis", diz Lami, que é professora e xiita praticante. A campanha dela tem como alvo a sua rede de eleitoras, especialmente em algumas das favelas mais pobres de Bagdá. Kibash, uma outra candidata que está disputando na lista de Jaafari, é atualmente uma integrante da câmara municipal de Cidade Sadr, mas ela e outras mulheres do conselho foram impedidas pelos homens de participar da financeiramente importante e crucial Comissão de Serviços. Ela diz que o conselho está atolado na corrupção. Apesar dos recentes progressos na área de segurança, algumas mulheres continuam sendo alvos de ameaças, enquanto outras afirmam que o processo todo é inútil, e o esforço não vale a pena. Liza Hido participou da câmara municipal, mas foi obrigada a renunciar ao cargo em 2006, após receber ameaças por e-mail e por mensagens de texto no seu telefone celular. Ela está concorrendo novamente neste ano, mas, ainda preocupada com a sua segurança, procura fazer uma campanha discreta, sem afixar cartazes ou aparecer em público. Hido restringe-se às reuniões privadas. A amiga dela, Bushra al-Obeidi, professora de direito da Universidade de Bagdá, recusou todas as tentativas de persuadi-la a tornar-se candidata. Ela sente que a conjuntura é desfavorável às mulheres, a começar pelas leis que ela vê como discriminatórias e derrogatórias em relação às mulheres. Uma dessas leis permite que um estuprador escape das punições legais caso se case com a vítima. Obeidi também deposita pouca fé no compromisso de promover a igualdade sexual assumido pela atual liderança política, que é dominada por partidos religiosos. "Posso te garantir que eles são contra as mulheres, e que estão mentindo para nós", diz ela. Suhail, a parlamentar, admite que as mulheres iraquianas não conseguiram, até o momento, alcançar os escalões superiores da estrutura de poder político, mas afirma que isto não é motivo para desistir.

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